Manejo Integrado de Pragas - MIP

O que é MIP – Manejo integrado de pragas?


É um método de controle de pragas que usa fatores de mortalidade natural. Não visa o extermínio da praga. Mas sim o controle dentro de um nível aceitável do ponto de vista econômico, ecológico e toxicológico, por limitar sua propagação. É baseada na analise do custo benéfico o que levam em conta o interesse e/ou impacto nos produtores, sociedade e ambiente. (BRECHELT, 2004) (MORAES, CARVALHO) (GALLO, et al. 2002).

Objetivo: minimizar o uso de produtos químicos e dar prioridade a medidas biológicas, biotecnias e de fito-melhoramento, assim como às técnicas de cultivo. (BRECHELT, 2004) (MORAES, CARVALHO) (GALLO, et al. 2002).

Como funciona?

O MIP possui três estratégias: (MORAES, CARVALHO).
a.     Prevenir
b.    Controlar
c.    Nada a fazer

A sua implantação ocorre em seis etapas: (GALLO, et al. 2002).

I.        Reconhecimento da praga mais importante (praga-chave)
 II.        Avaliação dos inimigos naturais (mortalidade natural no ecossistema)
III.        Estudo de fatores climáticos que afetam a dinâmica populacional da praga e seus inimigos naturais.
IV.      Determinação dos níveis de dano econômico e de controle.
V.        Avaliação populacional (amostragens)
VI.   Avaliação do(s) método(s) mais adequado(s) para incorporar num programa de manejo.

As cinco primeiras formam a base do MIP e a sexta está relacionada com a tomada de decisão.

Para um manejo adequado, precisamos conhecer nosso “inimigo”, quem ele é como se alimenta e com quem podemos nos aliar para vencê-lo. Quais os danos causados e quanto (R$) isso representa.  Entendendo isso, vamos à caça. Vamos ver o quanto ele já atacou e quantos são. Então, podemos estabelecer uma estratégia, usando métodos que o controle.


O produtor deve conhecer quais são as pragas chaves de sua cultura e a época critica. Depois será realizada uma amostragem da(s) praga(s) em questão. Quando atingir um nível ideal para controle, usam-se técnicas para reduzir a população. O seu objetivo principal é impedir que a população praga se instale, ou que a sua população aumente.


Quadro 1: Práticas de controle e estratégias usadas no MIP.

Práticas de controle
Estratégia
Uso de variedades resistentes
Uso de plantas que desfavoreçam o crescimento, reprodução e sobrevivência dos insetos.
Rotação de cultura
Alternar a cultura de variedades que não sejam hospedeiras das mesmas pragas.
Destruição de restos culturais
Impedir que o inseto-praga complete o seu ciclo de desenvolvimento, ou evitar que esses resíduos vegetais sirvam de hospedeiros para outras pragas.
Aração do solo
Expor larvas, pupas e mesmo adultos de insetos-praga de solo a raios solares ou ação mecânica dos implementos agrícolas causando-lhes injuria.
Adubação
Provocar uma pseudoresistência. Fornecem nutrientes à planta causando mudanças fisiológicas, tornando-a desfavorável ao desenvolvimento do inseto.
Alteração da época de plantio e/ou colheita
Fazer com que o período de maior suscetibilidade da planta não coincida com picos populacionais da praga.
Poda ou desbaste
Cortar e destruir, principalmente, os ramos de plantas perenes atacados pela praga, para evitar que as mesmas cause a morte da planta.
Irrigação ou drenagem
Existem insetos que preferem ambientes secos, e assim, uma boa irrigação pode desfavorecê-los e, outros se adaptam melhor em locais úmidos, podendo ser controlados através de uma drenagem.
Cultura armadilha
Plantar variedades susceptíveis ao redor ou mesmo no interior da área de cultivo, para atrair os insetos-praga para as mesmas e, sobre elas realizar o controle;
Destruição de hospedeiros alternativos
Eliminar plantas que esteja ao redor ou no interior da área de cultivo, que possam ser utilizadas pelas pragas como fontes alternativas de alimento e/ou abrigo.
Destruição manual
Catar ou esmagar ovos dos insetos encontrados nas plantas cultivadas, evitando o seu desenvolvimento.
Uso de barreiras
Formar barreiras com vegetais e/ou mesmo sulcos no solo para impedir que a praga alcance uma determinada cultura para se alimentar ou utilizá-la como abrigo.
Uso de armadilhas
Realizar o monitoramento do crescimento populacional da praga, auxiliando na tomada de decisão do seu controle.
Manipulação do ambiente
Reduzir ou aumentar a temperatura do ambiente, tornando-o desfavorável ao desenvolvimento do inseto.
Liberação, proteção e fomento dos inimigos naturais.
Utilizar parasitoides, predadores e entomopatógenos no controle de pragas e procurar mantê-los no agroecossistema;
Feromônios
Coletar o máximo possível de indivíduos do sexo masculino ou feminino, evitando o seu acasalamento.
Monitorar o crescimento populacional da praga para determinar o momento mais adequado de seu controle.
Esterilização de insetos
Diminuir os acasalamentos férteis, reduzindo a sua população a cada geração.
Quarentena
Prevenir a entrada de pragas exóticas e impedir a sua disseminação;
Medidas obrigatórias de controle
Destruir os restos de cultura para prevenção contra o ataque de insetos-praga.
Fiscalização do comércio de produtos fitossanitários
Auxiliar na escolha e na utilização mais racional de produtos químicos; evitar fraudes em formulações e estabelecer o limite de tolerância de resíduos tóxicos nos alimentos, bem como períodos de carência.
Produtos químicos
Somente em casos emergências, quando todas as alternativas de controle foram utilizadas.
Fonte: (MORAES, CARVALHO).

 Por que usar?


O manejo integrado permite a diminuição do uso de agrotóxicos, dando preferencia aos seletivos, para preservação dos inimigos naturais. Mantem a vegetação entre linhas e respeitar os limites de tolerância das plantas a praga. (REIS, 2001)
 
 O resultado: a preservação do meio ambiente e alimentos mais saudáveis e com menos resíduos. O produtor consegue diminuir o custo de produção e consequentemente, lucra mais.


Quanto custa?

 

Um estudo recente, realizado por Gasparino (2013) para Brevipalpus phoenicis, em citros, recomenda que talhões com carga de 10 frutos/m3 de copa a inspeção deveria ser de 5% das plantas e 4 frutos/planta, e em talhões com carga de aproximadamente 19 frutos/m3 de copa, deveria ser de 10% das plantas e 8 frutos/planta. Apesar de se aumentar o custo com a avaliação (R$ 4,50/h), há redução de aplicação de acaricida e consequentemente, diminuição do gasto com aplicações (uma aplicação R$ 256,00 /ha a R$361,00 /ha). Segundo Gasparino, gasto obtido com uma aplicação é o suficiente para se realizar 72 a 185 avaliações na amostragem recomendada. Com o benefício de reduzir as aplicações durante o ano.

 

Conclusão: 

 

O MIP tem por objetivo a redução do uso de agroquímicos. Com a garantia de que a praga não vai causar dano econômico. O que é aparentemente é simples de ser realizado.
Mas para que os resultados obtidos sejam satisfatórios, se exige do profissional um conhecimento amplo da área (que envolve a presença de inimigos naturais e locais onde se abrigam), do clima da região (para prever possíveis infestações), da cultura, de fertilidade do solo e nutrição da planta e da praga e seu comportamento. Além das interações que ocorrem entre esses fatores.  O que já não é tão simples, pois cada área é um caso a ser estudado e apresenta soluções diferentes. Resultando em soluções personalizadas para cada região ou problema.

Além disso, outro fator que dificulta um manejo adequado é a dificuldade do produtor em aderir ao programa e de seguir as recomendações que para ele, talvez não faça sentido ou que na sua concepção seja desnecessária. Pois o manejo exige mudança de habito, que para o agricultor é quase uma quebra de paradigma. Outro problema é que o produtor não quer realizar a amostragem e quer que sua área seja livre de insetos. E o conceito de MIP, preconiza o controle a níveis que não cause dano econômico, para favorecer os inimigos naturais e o controle biológico e consequentemente diminuir o uso de agroquímicos. E os resultados são em longo prazo.
Para que o sucesso seja garantido, em áreas especializadas em um tipo de cultura, se exige a implantação de um programa de controle e a aceitação de todos os produtores.  O que nem sempre é fácil. E na maioria das vezes exige a intervenção do Estado.
A literatura mostra alguns casos de sucesso em outros países. Porém no Brasil, a implantação de um programa não é tão simples. Devido à existência de vários biomas, a aceitação do produtor.

Referencias:

BRECHELT, A.  (Tradução: Hildegard Susana Jung, Jaime Miguel Weber) Manejo Ecológico de Pragas e Doenças. Fundação Agricultura e Meio Ambiente (FAMA) República Dominicana: 2004

REIS, P. R. Brevipalpus phoenicis, ácaro vetor da mancha-angular em cafeeiro. (J. R. Scarpellini et al., Eds.)IV Reunião Itinerante de Fitossanidade do Instituto Biológico e do V Encontro sobre pragas e doenças do cafeeiro. Anais... In: IV REUNIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO BIOLÓGICO E DO V ENCONTRO SOBRE PRAGAS E DOENÇAS DO CAFEEIRO. Ribeirão Preto - SP: 2001

GASPARINO, C. F. Tamanho da amostra e custo para monitoramento da infestação do ácaro da leprose em pomares de laranjas. Dissertação (Mestrado Profissional em Controle de Doenças e Pragas dos Citros - Araraquara: Fundo de defesa da citricultura, 2013).

MORAES, J. C.; CARVALHO, G. A. Integração de Estratégias e Táticas de Manejo. Disponível em: <http://www.den.ufla.br/siteantigo/Professores/Jair/Manejo%20Integrado%20 de%20Pragas. PDF>. Acesso em: 17 nov. 2013.

GALLO, D (in memoriam); NAKANO, O; SILVEIRA NETO, S; CARVALHO, R.P. L; BAPTISTA, G.C; BERTI FILHO, E. PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIM, J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO, C. Entomologia agrícola. FEALQ, Piracicaba – São Paulo: 2002.

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